Chamadas para trabalhos

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As mídias e a América Latina

Propriedade – Discurso – Recepção

Colóquio Internacional
IUT Robert Schuman – Universidade de Estrasburgo
Estrasburgo, 18 a 20 janeiro de 2017

Os séculos XX e XXI mostraram a importância crescente das mídias nas sociedades latino-americanas.  Pode-se, por exemplo, citar a cobertura feita pelo canal Telesur do golpe de Estado contra o presidente de Honduras, Manuel Zelaya, em 2009, enquanto outras redes mantiveram o silêncio sobre o assunto. Em outro contexto, as mídias tradicionais da Venezuela foram acusadas de complacência diante do golpe de estado contra o presidente Hugo Chávez em 2002. Na Colômbia, criticam-se as mídias tradicionais por seu silêncio sobre a situação das vítimas da violência paramilitar e das forças armadas do Estado.  Mais recentemente, o presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, denunciou a atitude das grandes mídias colombianas pela difusão de falsas informações. Medindo a importância das mídias, alguns governos da América latina modificaram ou publicaram leis sobre as mídias.  É o caso, por exemplo, da lei 26.533, ou « Ley de medios »1, promulgada na Argentina em 2009 pela presidente Cristina Fernández de Kirchner para substituir a lei de radiodifusão precedente, em vigor desde a ditadura militar.  A lei de responsabilidade social de rádio e de televisão (« Ley resorte »2), aprovada em 2004 na Venezuela, é outro exemplo.

Com efeito, constata-se que o papel das mídias de massa (impressa, rádio, televisão, internet) na sociedade atrai o interesse não apenas dos pesquisadores (ver, por exemplo : Balle, 2011 ; Breton, Proulx, 2002 ; Herman, 2002 ; Rieffel, 2005 ; Sabucedo, Rodríguez, 1997), mas também de numerosas personalidades políticas, de grupos de interesse e de organizações cidadãs.  Enquanto os primeiros buscaram sobretudo compreender até que ponto os conteúdos difundidos pelas mídias podem influenciar o comportamentos dos indivíduos, os segundos buscam em especial instrumentalizar suas relações com os jornalistas ou os dirigentes para torna-los mais favoráveis às suas causas. Por outro lado, em períodos de crise, de conflito ou ainda em tempos de guerra, as mídias podem se tornar « armas » de comunicação (Allan, Zelizer, 2004 ; Barreto, Borja, Serrano, López, 2009 ; Bernays, 2007 ; Carruthers, 2011 ; Charaudeau, Lochard, Soulages, Fernandez, Croll, 2001 ; Charon, Mercier, 2004) e a maneira como alguns sujeitos ou certos grupos sociais são tratados pelos jornalistas e as mídias é com frequência denunciada. Os profissionais da informação são também, com certa frequência, acusados de fornecer uma representação superficial e redutora da « realidade », de atiçar os conflitos e as guerras ou ainda de tornar invisíveis certos assuntos e certos atores sociais (Herman, Chomsky, 2003 ; Iyengar, 1991 ; Pardo Abril, 2008).

Seja como for, reconhece-se a influência das mídias sobre a construção das agendas políticas e sobre a « leitura » da realidade que propõem. Com a emergência das novas tecnologias, interessa-se igualmente pela forma como os cidadãos influenciam a agenda das mídias tradicionais graças às mídias alternativas e às « novas » mídias, como a Internet (Charon, 2007 ; Charron, 1995 ; Coutant, Stenger, 2012 ; Gurevitch, Coleman, Blumler, 2009 ; Heaton, Millette, Proulx, Muse, 2012 ; Mathien, 2006). Outras interrogações incidem sobre a maneira como os receptores das mídias se apropriam, decodificam, negociam ou rejeitam as mensagens midiáticas, questões que têm sido objeto de estudos empíricos e de reflexões teóricas (Breton, Proulx, 2002 ; Jouët, 2000 ; Ologeanu-Taddei, Staii, 2009).

Tais questões sobre as mídias estão colocadas de maneira diferente na América latina ?  As particularidades históricas, culturais e econômicas do continente levariam às mídias de massa latino-americanas a funcionar de modo diferente do restante do mundo? O objetivo deste colóquio, portanto, é de reunir pesquisadores, oriundos de diversas disciplinas, em torno das mídias na América latina e sobre a América latina. Em outros termos, trata-se não apenas de analisar as mídias da América latina, mas também de observar como as mídias do mundo olham a América latina e suas mídias.

Nessa perspectiva, vários eixos são propostos, de maneira não exaustiva:

  • Propriedade e internacionalização das mídias

Convém se interrogar sobre as diferenças entre os grandes grupos midiáticos privados e as mídias que se apresentam como mais democráticas. Notam-se cada vez mais iniciativas cidadãs que buscam introduzir mídias alternativas, comunitárias e que dão a palavra aos excluídos das mídias tradicionais. Novas iniciativas públicas também surgiram. Grandes mídias que reivindicam uma linha editorial diferente das empresas tradicionais assumem doravante um papel importante na cena política. Pensamos, notadamente, na rede Telesur ou ainda nas parcerias como a da Telesur e Russia Today. As versões em espanhol de algumas redes de televisão como a rede chinesa CCTV mostram também o interesse de outras regiões do mundo pela América latina. Assim, essas mídias que reivindicam uma linha editorial engajada funcionam com modelos econômicos distintos daqueles que financiam as mídias pela publicidade ou por doações. Esses novos modelos operam ao lado das mídias tradicionais, públicas ou privadas, e abrem novas questões quanto ao seu papel, seu modo de financiamento, suas relações com os poderes públicos, o espaço destinado à palavra cidadã. Em outros termos, eles colocam em causa « a objetividade » das mídias tradicionais.

  • Discurso das mídias / Análise dos conteúdos midiáticos

O interesse pode se voltar, por outro lado, para os próprios « conteúdos » midiáticos, ou seja, para os discursos das mídias. Encontrarão aqui o seu lugar as contribuições que buscam analisar a maneira como as mídias representam e/ou interpretam a « realidade » latino-americana. Como esses últimos dão conta, por exemplo:

✓  Da polarização política (como, por exemplo, na Venezuela, no México, na Colômbia, no Brasil, entre outros) ?
✓ Da diversidade social (étnica, de gênero, etc.) ?
✓ Da pobreza e dos problemas que podem gerar (exclusão, marginalização, delinquência, etc.) ?
✓ Das normas e dos valores sociais (aquelas evocadas, por exemplo, nos debates sobre a descriminalização do aborto ou sobre o direito ao casamento para os casais homossexuais em numerosos países da América latina) ?

Pode-se questionar, além disso, em que medida as mídias, enquanto produtoras de discursos, assumem um papel de construção dessas realidades sociais (Searle, 1998 ; Moirand, 2008).

Este colóquio será igualmente a ocasião para se interrogar sobre a questão do acontecimento. Com efeito, esse último nos chega, em primeiro lugar, por meio das mídias.  Acolher-se-á, portanto, nesse eixo, as contribuições que estudam o tratamento midiático do acontecimento, que se trate de um acontecimento efêmero (uma eleição, a morte de uma personalidade política, um golpe de Estado, etc.), ou de um « macro-acontecimento », que se inscreve numa longa duração (tal como o conflito armado na Colômbia). Nessa perspectiva, é possível se interrogar sobre o papel do discurso midiático na construção da memória coletiva e da história imediata (Langue, 2003 ; Krieg, 2000 ; Moirand, 2007 ; Calabrese, 2013).

As proposições poderão se centrar tanto sobre o discurso da informação quanto sobre o discurso ficcional das mídias (por exemplo, nas Telenovelas e outras séries que fazem grande sucesso há muitos anos na América latina e no resto do mundo). As proposições deste eixo tratarão seja do discurso das mídias latino-americanas, seja do discurso das mídias de outras regiões sobre a América latina.

  • Recepção das mídias

O terceiro eixo deste colóquio corresponde à recepção dos discursos midiáticos, um dos polos menos desenvolvidos nos estudos comunicacionais. Quaisquer que sejam as mídias, tradicionais ou novas, buscamos levantar questões sobre a problemática de sua recepção, centrando-nos sobre as relações entre os discursos midiáticos e seu público. Com efeito, o público, no sentido amplo, é parte essencial da informação enquanto coprodutor da significação. A oferta de informações atinge hoje uma tamanha dimensão que nos parece ser pertinente desenvolvê-la em dois sub eixos (não exaustivos) : de um lado, as atitudes e as práticas dos indivíduos face aos conteúdos transmitidos pelas diferentes mídias e, de outro lado, os diferentes métodos capazes de estudar a problemática da recepção das mídias pelos indivíduos. As contribuições, oriundas tanto das ciências da informação, da sociologia, da etnografia da recepção, da psicologia social, quanto da história, entre outras, poderão se centrar sobre as práticas e a construção do sentido dos receptores, as ancoragens sociais da recepção e as evoluções que implicam as novas mídias. Por exemplo, a multiplicidade das mídias modificou as práticas dos indivíduos? A televisão, o rádio, a imprensa escrita, e mais recentemente a internet, necessitam, respectivamente, de mobilizações cognitivas diferentes da parte dos receptores?

Organização

As proposições podem ser enviadas em francês, em espanhol ou em português ao endereço  colloque.medias@colloquemedias2017.org em um arquivo word anonimizado, contendo unicamente o título da proposta, um resumo de no máximo 500 palavras, 5 palavras-chave e 5 referências bibliográficas. No corpo do email, o proponente deverá incluir o nome do autor (a), sua ligação institucional e sua disciplina, seu endereço eletrônico e o título da proposta.

A língua oficial do colóquio é o francês, mas as comunicações poderão igualmente ser apresentadas em espanhol e em português.  Nesse caso, pede-se aos participantes que preparem um suporte power point em francês.

Como resultado do evento, uma seleção de artigos será publicada na forma de livros ou revistas, em suporte impresso e/ou eletrônico. Para isso, um texto completo de 20 000 caracteres será solicitado aos autores aceitos e, nesse caso, deverá ser enviado até o dia 30 de novembro de 2016.  Os textos serão avaliados pelo comitê científico para publicação.

Calendário :

  • 7 de março de  2016: envio das propostas ao endereço colloque.medias@colloquemedias2017.org
  • Junho de 2016: resposta às propostas.
  • Outubro de 2016: abertura de inscrições.
  • 30 de novembro de 2016: envio do texto completo.
  • 18 a 20 de janeiro de 2017: período de realização do colóquio.

Conferencistas confirmados :

Wander EMEDIATO (Universidade Federal de Minas Gerais)
Aline HELG (Université de Génève)
Jairo LUGO-OCANDO (University of Leeds)
Sophie MOIRAND (Sorbonne nouvelle – Paris 3 – Syled-Cediscor)
Neyla Graciela PARDO ABRIL (Universidad Nacional de Colombia)

Comitê organizador :

Morgan DONOT (CREDA – Paris 3 – Sorbonne nouvelle)
Wander EMEDIATO (Universidade Federal de Minas Gerais)
Ailin NACUCCHIO (EHESS)
Claudio RAMIREZ (Université Catholique de Louvain – K.U. Leuven)
Eglantine SAMOUTH (Université de la Réunion, DIRE/CEDITEC)
Yeny SERRANO (Université de Strasbourg – LISEC)

Com a colaboração dos estudantes de comunicação da IUT Robert Schuman :
Thibaut MENUGE, Mannel OUARTI, Michaël WISS, khedidja ZEROUALI, Maximilein SZREDNICKI

 

Comitê Científico :

Clémentine BERJAUD (Université Paris 1 Panthéon-Sorbonne)
Henri BOYER (Université Montpellier III – Dipralang)
Emmanuelle CHEVRY (Université de Strasbourg – LISEC)
Morgan DONOT (CREDA – Paris 3 – Sorbonne nouvelle)
Wander EMEDIATO (Universidade Federal de Minas Gerais)
Erika GUEVARA (Université Paris 8)
Aline HELG (Université de Genève)
Myriam HERNANDEZ (Université Lille 3 – CEDITEC)
Sophie KENNEL (Université de Strasbourg – LISEC)
Alice KRIEG-PLANQUE (UPEC – CEDITEC)
Jean-Marc LEBLANC (UPEC – CEDITEC)
Dominique MAINGUENEAU (Paris IV Sorbonne – STIH)
Sophie MOIRAND (Sorbonne nouvelle – Paris 3 – Syled-Cediscor)
Ailin NACUCCHIO (EHESS)
Neyla Graciela PARDO ABRIL (Universidad Nacional de Colombia)
Ricardo PEÑAFIEL (Université du Québec à Montréal)
Carlos PIOVEZANI (Universidade Federal de São Carlos)
Claudio RAMIREZ (Université Catholique de Louvain – K.U. Leuven)
Darío RODRIGUEZ (CREDA – Paris 3 – Sorbonne nouvelle)
Eglantine SAMOUTH (Université de la Réunion, DIRE/CEDITEC)
Pablo SEGOVIA (Universidad de Playa Ancha)
Yeny SERRANO (Université de Strasbourg –LISEC)
Philippe VIALLON (Université de Strasbourg – LISEC)

Instituições parceiras :

Bibliografia indicativa proposta pelo comitê organizador:

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